Wednesday, November 16, 2016

Desenho Universal, você sabe o que é isso?

Confesso que para mim a acessibilidade era dar autonomia às pessoas com deficiência sem pensar em como algumas medidas podem afetar outras. Para mim, ao entrar num espaço e ver que há piso tátil, já era mostras de acessibilidade. Se ainda houvesse num projetor a janela de intérprete de Libras ou audiodescrição, era uma benção. Mas, ao estudar o conceito de Desenho Universal, fiquei maravilhada. Não porque seja algo extremamente novo, mas por ser muito simples. 
Imaginem que o fato de um telefone estar numa posição inferior é também uma forma de discriminação. Claro que a intenção de dar o acesso a um cadeirante é louvável, mas se todos os telefones estivessem numa altura acessível a qualquer estatura muito melhor. Eu, por exemplo, não tenho nenhuma deficiência; não sou cadeirante ou mesmo sou portadora de nanismo. Entretanto, meus 1,54m de estatura me impedem de alcançar coisas altas. Se de repente uma tela de projetor estivesse a meu alcance e de uma pessoa que precisasse mais que eu, por que não usar desse recurso?
É engraçado pensarmos como podemos facilitar a vida de várias pessoas com pequenos gestos.
E de pensar que são tão variadas as formas de acessibilidade, desde programática à arquitetônica. Vi um vídeo recentemente que a entrevistada dizia: "a acessibilidade deveria simplesmente estar lá, uma pessoa deveria ter e não ter que se preocupar em as outras a fornecerem". Como garantir isso se somos egoístas e, apesar das políticas públicas atuais, ainda termos poucos efeitos na prática? É uma lástima que não tenhamos a formação necessária para ser e garantir os direitos iguais para todos. 
Outro exemplo: apesar de haver uma lei que determine que 10% (se não me engano) da programação televisiva tenha que ser acessível com audiodescrição, só é oferecido, em cadeia nacional, a apresentação de um filme. Isso porque vivemos atualmente a era do imagético.
Por falar nisso, chamou-me a atenção o fato de terem criado um hashtag #PraCegoVer a fim de que os cegos possam "ver" imagens. Poxa, uma coisa tão simples que demorou tanto tempo para facilitar a vida de um monte de gente.
Toda essa reflexão, apesar de me deixar extasiada, deixa-me um pouco frustrada. Eu estou tendo acesso a todas essas informações, teorias, perspectivas e sei que há muita gente, em meu próprio convívio de trabalho, que não se importa com essas questões.
A ideia de que poderia ser eu a que precisasse, nunca foi tão clara e nítida, porque mesmo que não tenha uma deficiência, preciso de soluções como as de desenho universal.

#PraCegoVer: Duas professoras conversando em frente aos alunos e uma delas diz: "Nossas escolas não estão preparadas", continua "Nós, professores, não conhecemos essas crianças" e finaliza "Não aprendemos no curso normal nada sobre Educação Especial". 


Parece-me que esta charge representa que sempre estarmos justificando e pouco fazendo para suprir nossas dificuldades. Se para alguns de nós é difícil, imagine para aqueles que tem todo um jogo social contrário?

Tuesday, September 27, 2016

“A pessoa com deficiência na minha história de vida”

A questão da inclusão começou no ensino médio para mim. Lembro-me de que, quando estava no primeiro ano, tive o primeiro contato na escola com um deficiente visual. Ao vê-lo se locomovendo e estando na sala com a máquina de Braille, várias coisas e questionamentos passaram pela minha cabeça. Uma delas era: como ele aprende sem ver? Essa inquietação ainda me move. Questiono-me se a cognição dos deficientes visuais é diferente do vidente. Imagino e pelo que estudei sim. Entretanto, não sei em termos neurológicos como. 
Voltando ao meu colega de sala... poucos eram os professores que se importavam com ele aí. O incômodo era maior conosco, alunos. partiu de nós a ideia de auxiliá-lo durante as aulas. Ele já tinha um colega que o ajudava na locomoção, mas não tinha ajuda - além da sala de recursos que frequentava no contraturno - durante as aulas. 
Oferecemo-nos para auxiliá-lo, ajudando na explicação, resolução de exercícios e tirando suas dúvidas. Acho que aprendi mais com ele do que ele comigo em língua portuguesa. Ele me ensinou a "traduzir" o Braille e como fazer surgirem de 9 teclas uma infinidade de textos. Aprendi como ele "via". Um dia ele me disse que eu devia ser bem bonita, pois a minha voz era doce. Quando ele tocou o meu rosto disse "seu nariz é redondo". Enfim... foi uma experiência sem igual. 
Posteriormente, após meus estudos de licenciatura em Letras, fui fazer uma pós na Espanha, país onde a inclusão de deficientes visuais é levada a sério. A organização ONCE é muito bem estruturada, quer dizer, era. 
Tentei fazer alguns estágios e visitar o espaço, mas não consegui. O prédio acabara de ser fechado. Entretanto, as pesquisas lá são muito desenvolvidas e comprei livros e busquei professores que pudessem me orientar nessa área. Infelizmente, não levei adiante o desejo de fazer mestrado em ensino de espanhol para deficientes visuais.
Nos últimos anos, dando aula, percebi que o número de alunos com necessidades especiais - não sei se o politicamente correto aceita este termo - aumentava na escola (ainda bem!!), mas o sentimento de impotência também me tomava. Não sabia e não sei ainda teoricamente o que devo fazer na prática. Algumas decisões que tomei com alunos autistas, com distúrbios de aprendizagem, foram decisões pessoais e experenciais. Ainda almejo poder ter plena consciência do que e por que estou fazendo tal coisa. 
Espero que o curso auxilie nessa descoberta, construção e reconstrução de prática docente.